Os jornais deleitam-se em noticiar por meio de manchetes grandiloquentes os escândalos de corrupção, especialmente de políticos e autoridades. Julgam que a corrupção da ralé não merece menção. Desfilam diante de nós juízes, deputados, prefeitos, vereadores, senadores, ministros e outros medalhões do Estado e da sociedade civil a desfiar um rosário de contas, não de orações, mas bancárias fraudulentamente nutridas.
A gravidade ética, porém não vem de fatos isolados. Esses proliferam em todos os quadrantes. Lentamente a corrupção se insinua no cotidiano das pessoas a ponto de tornar-se -cultura.
A frase típica soa: TODO MUNDO FAZ ASSIM. Ela entra no complexo simbólico que constitui a cultura e torna inteligível o comportamento das pessoas.
E a crise ética surge no momento em que se une ao inteligível a qualidade de justificável.
Quando no interior de uma cultura determinado procedimento humano se torna normal, comumente aceito e praticado, facilmente se faz justificável.
Nessa altura, requer-se juízo agudo da razão para sopersar-lhe a verdadeira qualidade ética.
Se universalizarmos tal prática que acontece com a sociedade, com a convivência humana?
Ora, à medida que a corrupção se universaliza e se transforma em prática diária, a sociedade sofre enorme risco de perder parâmetros fundamentais de existência.
Entra a funcionar a vergonhosa LEI DE GERSON de tirar vantagem em toda jogada. Vive-se no reino dos espertinhos. E, esses se acobertam com a sagacidade e desplante ético, afrontando a consciência das pessoas.
Vale de tal situação a afirmação de DOSTOIEVSKI de que se DEUS não existe, tudo se torna possível no sentido da enormidade dos crimes e maldades.
Assim também na cultura da corrupção, as piores jogadas humanas se justificam.
As pessoas se distinguem unicamente pela escala maior ou menor de perversidade e não pela eticidade do agir.
A cultura se transmite pela educação, pela linguagem, pelos símbolos e pelos comportamentos que herdamos.
E na atual sociedade, a mídia ocupa papel fundamental em tal processo. Toda mudança cultural virá pela injeção de ética em todos esses campos, especialmente no da mídia.
Não adianta que ela alardeie os fatos escandalosos de corrupção, se na base de tal publicidade se escondem interesses inconfessáveis e a forma publicitária termina por favorecê-la e incentivá-la.
J.B.LIBANIO
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