A MESA VAZIA
Ele frequentava um bar há mais de 20 anos, com um grupo de 20 a 30 velhos amigos. Embora exercendo profissões diferentes, eles eram unidos pela atração de um papo descontraído e inconsequente. Os assuntos eram vários, passando do futebol para a filosofia sem a menor cerimônia, mesmo porque conversa de botequim é para essas coisas.
Ás vezes, explodiam discussões mais veementes, porém nunca as chamadas vias de fato perturbaram a amizade que congregava aquele grupo.
Quando o pessoal chegava, à tarde, já estava a toalha estendida, copos estrategicamente distribuídos - um lagoinha para o mais boêmio, um copo de pé para o mais exigente, um menso limpo para o mais nojento -desgraçada coincidência.
Durante anos a mesa ali permaneceu ajaezada, muda testemunha dos dramas e traumas, anseios, e decepções, vitorias e fracassos de cada frequentador.
Até que certo dia a mesa se desfalcou com o falecimento de um dos integrantes. O choque do impacto, gradativamente, perdeu-se no tempo.
Poucos anos depois ocorreu novo choque com a perda de outro amigo.
A idade já não era a mesma. Os anos pesavam. A vida continuou com novo falecimento e assim foi se desfalcando a turma. E os amigos, um a um, desaparecendo.
Mas a mesa continuava posta, rigorosamente posta, como nos primeiros tempos.
Até que em um entardecer sombrio e triste , o boêmio chegou e viu, com pesar, que a mesa estava vazia.
Onde os amigos de outrora? Onde a prosa descontraída e alegre? Onde o sorriso de solidariedade ou memso a palavra de provocação? Onde a muda presença do fraternal amigo nos longos momentos de dor ou ainda nos fugazes instantes do êxito? Onde a voz do irmão silente?
A mesa vazia. Tudo acabado. Só então ele percebeu que o tempo passara.
E que a vida nada mais do que a exaustiva espera da morte
Jose B.T.salles
Nenhum comentário:
Postar um comentário