sábado, 18 de agosto de 2012

MEU AMIGO PARTIU SEM DESPEDIR - A vida nada mais é do que a exaustiva espera da morte



A MESA  VAZIA


Ele  frequentava um  bar  há  mais de 20 anos,  com  um  grupo  de  20 a 30 velhos amigos.  Embora  exercendo  profissões diferentes,  eles  eram  unidos  pela  atração de  um  papo  descontraído  e  inconsequente.  Os  assuntos  eram vários,  passando  do  futebol  para  a filosofia  sem  a menor  cerimônia,  mesmo  porque  conversa  de botequim  é  para essas coisas.
Ás  vezes,  explodiam  discussões  mais  veementes,  porém  nunca  as chamadas  vias  de fato  perturbaram  a  amizade  que  congregava  aquele  grupo.
Quando o pessoal  chegava,  à  tarde,  já  estava  a toalha  estendida,  copos  estrategicamente  distribuídos - um  lagoinha  para  o mais boêmio,  um  copo de pé para  o mais exigente,  um  menso limpo para  o mais nojento -desgraçada coincidência.   
Durante  anos  a mesa  ali  permaneceu ajaezada, muda  testemunha  dos  dramas  e  traumas, anseios,  e decepções,  vitorias  e  fracassos  de cada frequentador.
Até  que  certo  dia a mesa  se desfalcou  com  o  falecimento  de um  dos  integrantes.  O  choque  do  impacto, gradativamente,  perdeu-se  no  tempo.
Poucos anos depois  ocorreu  novo  choque com a perda de outro  amigo.
A  idade já  não era  a mesma.  Os  anos  pesavam.  A  vida  continuou com  novo  falecimento  e assim  foi  se  desfalcando  a  turma.  E  os amigos,  um  a um,  desaparecendo.

Mas  a mesa  continuava  posta, rigorosamente  posta,  como  nos  primeiros  tempos.
Até  que  em  um  entardecer  sombrio  e  triste ,  o  boêmio  chegou  e  viu,   com  pesar, que a mesa  estava  vazia.
Onde os amigos de outrora?    Onde  a prosa  descontraída  e alegre?  Onde  o sorriso  de  solidariedade  ou  memso  a  palavra  de provocação?   Onde  a muda  presença  do  fraternal  amigo nos  longos  momentos  de  dor  ou  ainda  nos  fugazes  instantes  do êxito?  Onde  a  voz do  irmão  silente?
A mesa  vazia.  Tudo acabado.  Só então  ele  percebeu   que o tempo  passara.
E  que  a vida  nada mais  do  que  a exaustiva  espera da morte 
Jose B.T.salles

Nenhum comentário: