Este mundo anda mesmo de pernas pro ar, o que já era, já não é mais, o que deixou de ser e o que será ninguém sabe como vai ser, Invertem-se os papeis da realidade urbana.
Diante dos sucessivos assaltos, as casas se transformaram em verdadeiras fortalezas, com cercas elétricas, sensores, fotoelétricas, trancas, fechaduras e cadeados, de tal modo que os proprietários se tornam prisoneiros e os assaltantes, donos da cidade esquecida.
Os burros já não puxam mais as carroças e as igrejas se trancam aos devotos penitentes.
Homem é reconhecido como mulher e a mulher assume ares e modos do homem. Os ricos se empobrecem como pobres de espírito e os pobres se enriquecem com os males da burguesia. Secam-se os rios, e inundam-se os carrascais da miséria.
Sobram universidades e escasseiam os cursos primários. O atleta torna-se homem público e o político vira ladrão. A honra é demérita e a desonestidade, esperteza.
MEU DEUS, QUE DIABO DE MUNDO É ESTE?
Agora, no vale das lágrimas das contradições humanas, leio os jornais à história do assaltante que depois de ser libertado pela justiça, pediu ao Dr. Meritíssimo Juiz de Direito para ser enviado de novo para a prisão. E durmam-se com um barulho desse!
É certo que ele, o prisioneiro solto deu lá suas razões para a estranha preferência: libertado, não teve forças para se livrar do álcool e da droga, o que só conseguiu na prisão.
O pedido inusitado do liberto-preso me fez recordar do conto de Machado de Assis:
IDEIAS DE CANÁRIO:
Em uma velha, semi-escura e triste loja de um Belchior carioca, um freguês compra um belo canário que cantava alegre e incontidamente, numa vistosa gaiola. Fugindo depois para a mata, o pássaro se encontra, certo dia, com o seu comprador e trava com este interessante diálogo: preso na gaiola, ele era feliz e tinha tudo com que sonhava: água e alpiste. Agora, solto, enfrentava as maiores dificuldades para a sua sobrevivência, numa luta pela vida desigual e árdua.
Este ensinamento do velho MACHADO: O RELATIVISMO DA CONCEITUAÇÃO DA LIBERDADE.
Este assunto é bastante delicado porque só a boa formação desde a infância alicerçada no diálogo, na confiança mutua, no afeto e no respeito, com a transmissão de noções básicas de auto proteção e noção do perigo, pode fazer frente aos desafios que o ser humano precisa enfrentar ao longo da vida. É no diálogo saudável entre entre pais e filhos que medidas visam a tranquilidade e não a submissão ao controle que se legitimam.
O retorno do assaltante a carceragem é motivo de dúvida e apreensão. A liberdade é nossa
melhor forma de viver, enjaulado não é viver, é morrer como se estivesse indo para o inferno,
De quem é a culpa. Gostaria de saber.
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